Projecto de Investigação
O Sagrado e o Profano no Antigo Egipto: O Templo de Khonsu, em Karnak, e as suas ligações teológicas e culturais com o Templo Opet no período greco-romano – O Templo de Esna: inscrições ptolemaicas e teologias

2 de Maio de 2019

Estado do projecto | Em curso

Período de actividade | 2020-2023

REF | CEECIND/02867/2018

Finaciamento | Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P. – Estímulo ao Emprego Científico (EEC)

Unidade de investigação principal | Centro de História da Universidade de Lisboa

Instituição principal | Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa

Investigador principal | Abraham Ignacio Fernández Pichel (CH-ULisboa)

Instituições e grupos de pesquisa participantes | Université Paul Valéry Montpellier III, Institut Français d’archéologie Orientale (IFAO, Cairo), Centre franco-égyptien d’étude des temples de Karnak (CFEETK, Luxor).

O domínio sagrado do deus Amun-Ra em Karnak (antiga Tebas, actual Luxor), um dos maiores recintos sagrados do Egipto, constitui uma fonte decisiva para o estudo da antiga religião egípcia, das actividades dos templos, bem como das interligações entre eles. Karnak compreende uma grande quantidade de templos, capelas, santuários, unidades administrativas e domésticas, cujo desenvolvimento cronológico data do Império do Meio (a partir de c. 2000 a.C.) até ao período romano (I d.C.).

Os templos de Khonsu e de Opet estão localizados no sector sudoeste de Karnak. O templo de Khonsu foi construído durante a XX dinastia, no final do Segundo Milénio a.C., o templo de Opet, provavelmente, durante a XXV dinastia (século VIII-VII a.C.). Ambos foram restaurados e ampliados durante os períodos ptolemaico e romano (IV a.C. – I a.C.).

Fontes escritas e arqueológicas dos períodos ptolemaico e romano mostram claramente as ligações entre os templos de Khonsu e de Opet a diferentes níveis. A este respeito, as inscrições do portão ocidental, principalmente, da primeira corte do templo de Khonsu, confirmam que existiam circulações rituais entre eles. Foi encontrada uma escada, ligando ambos os templos, através do portão acima mencionado, da primeira corte durante as obras arqueológicas no sector oriental do templo de Opet em 2015, confirmando a ligação destes dois templos.

A ligação de ambos os santuários através deste acesso e da escadaria serve assim de enquadramento espacial, exemplificando a interacção teológica e a circulação cultual entre ambos os templos, principalmente no contexto do culto funerário ao deus Osíris. Textos e cenas em diferentes salas dos templos de Khonsu e de Opet reforçam estas considerações. Até agora, contudo, apenas uma parte destes testemunhos foi publicada e estudada. O presente projecto propõe-se estudar este novo material, a fim de estabelecer a ligação teológica e ritual que existia entre ambos os templos.

Finalmente, a referida circulação física e teológica também nos permite supor uma possível comunicação entre os templos de Khonsu e de Opet, do ponto de vista dos sacerdotes por eles empregados. A este respeito, as estátuas dedicadas por diferentes indivíduos de Tebas, deste período, encontradas em Karnak atestam a existência de sacerdotes que desempenharam as suas funções em ambos os templos. As mesmas considerações podem ser extraídas de numerosos papiros demóticos e gregos e óstracos do domínio do templo de Karnak.

Com o presente estudo, pretende-se analisar as interligações entre os templos de Opet e Khonsu a partir de diferentes pontos de vista. Em primeiro lugar, ambos os templos nos permitem investigar novos exemplos de intertextualidade, produção textual genética e práticas teológicas, ilustrando não só a dimensão textual destes testemunhos, mas também a cultura literária responsável pela sua produção. A este respeito, algumas questões são importantes: como é que estes textos dos templos de Khonsu e de Opet descrevem as divindades mencionadas e representadas nas suas cenas e textos rituais? Em que medida é que estas descrições respondem a um quadro teológico comum partilhado por ambos os templos? E como estão ambos os santuários ligados espacialmente através destas analogias temáticas da sua decoração parietal?

Em segundo lugar, o tema proposto leva-nos a investigar o grupo social responsável pela criação do texto: os teólogos e sacerdotes dos templos. As questões abordadas pretendem determinar as funções e deveres rituais deste grupo profissional neste sector sudoeste de Karnak, a existência de genealogias sacerdotais em relação aos dois templos ou modalidades de transmissão de títulos sacerdotais de pai para filho.