A abolição da escravatura em Cabo Verde | Seminários CH-ULisboa | História de África

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 30 de Janeiro de 2019, Sala 5.2, às 18:00

Organização | Centro de História da Universidade de Lisboa; licenciatura em Estudos Africanos (UC História de Cabo Verde)

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João Lopes Filho
Professor Titular da Universidade de Cabo Verde

Embora presente desde longa data em quase todo o mundo, a escravatura ganhou uma nova dimensão com a expansão marítima e comercial europeia, que lhe concedeu outros contornos e práticas de mercantilização de seres humanos, gerando um tráfico cuja dimensão e impacto ainda carecem de estudos aprofundados.
A posição estratégica de Cabo Verde, no cruzamento das principais rotas marítimas intercontinentais, transformaria a ilha de Santiago num importante entreposto de escravos, constituindo-se num dos vértices do triângulo do tráfico negreiro transatlântico.
Entretanto, nos finais do século XVIII, ganham relevância os contrastes entre a sociedade industrial emergente e a política mercantilista, sendo precisamente a Inglaterra, berço da revolução industrial, que iria liderar na Europa o processo de abolição da escravatura.
Constrangido pela pressão britânica e face aos interesses económicos aliados à escravatura, o processo abolicionista em Portugal seria gradual, o que possibilitou o tráfico ilícito durante bastante tempo. Perante a importância do arquipélago de Cabo Verde no tráfico clandestino, foi ali instalada uma das Comissões Mistas Luso-Britânicas visando o seu controlo.
Mas para a desagregação do comércio escravocrata em Cabo Verde contribuíram, igualmente, as tensões resultantes da instabilidade social provocada pelas repercussões das crises de chuvas, aliadas à necessidade de reestruturação da organização económica perante a dificuldade em adquirir e manter mão-de-obra escrava, gerando conflitos entre os diversos estratos sociais.
Todavia, com a abolição da escravatura ganharam expressão práticas culturais de origem africana abafadas pelas estratégias de dominação, ao mesmo tempo que se acelerou o processo de miscigenação, potenciando características que se reflectiram na identidade cultural cabo-verdiana.

João Lopes Filho é Antropólogo, especialista em Estudos Africanos, tendo dedicado os seus estudos maioritariamente às ilhas de Cabo Verde, de onde é originário. Autor de mais de 20 livros e dezenas de artigos, João Lopes Filho foi docente na Universidade Nova de Lisboa e na Universidade de Cabo Verde. O carácter interdisciplinar dos seus trabalhos tornaram-no num autor incontornável para todos os que se dedicam a temáticas da história, antropologia, etnologia e sociologia de Cabo Verde.