Ferreiros e fundidores da Ilamba. Uma história social da fabricação de ferro e da Real Fábrica de Nova Oeiras (Angola, segunda metade do séc. XVIII) | Seminários CH-ULisboa | História de África

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 13 de Fevereiro de 2019, Sala B1 (Biblioteca), às 18:00

Organização | Centro de História da Universidade de Lisboa

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Crislayne Alfagali
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, PUC-Rio

Embora a Real Fábrica de Ferro de Nova Oeiras tenha sido objeto de estudo de diferentes e relevantes correntes historiográficas, tornou-se imperativo analisar a instalação da fábrica, no sertão do Reino de Angola, para além da perspectiva da administração portuguesa, enfatizando, portanto, o ponto de vista das sociedades africanas.
As mudanças nas relações de trabalho foram alguns dos desdobramentos mais impactantes desse processo histórico e acabaram por deslindar modos de exploração do trabalho dos Ambundos, para além da escravidão, impostos desde a conquista. O estudo das faces normativa e prática dessas transformações trazem para o centro da narrativa os representantes da elite política africana, que constantemente reivindicaram seu estatuto de vassalos para denunciar os abusos que eles e seus dependentes sofriam. Outros aspectos das relações coloniais manifestos durante a construção da fundição de Nova Oeiras foram os conflitos em torno de minas e terras e o controle da fabricação e comercialização de objetos de ferro. Esses eram recursos naturais e utensílios que para os africanos detinham significados para além do econômico. Os ferreiros e fundidores da Ilamba produziam um ferro de alta qualidade em fornos baixos, com seus instrumentos rústicos. Sua trajetória, enquanto grupo de artesãos, permite compreender as disputas, conflitos, costumes e tradições envolvendo tanto as estratégias do domínio colonial português, quanto as formas de resistência, a invenção de novas práticas, a elaboração de discursos articulados pelos africanos.