Nas trilhas da marrabenta: música, cotidiano e nação na periferia de Lourenço Marques/Maputo (1950-1980) | Seminários CH-ULisboa | História de África

Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 19 de Dezembro de 2018, Sala 5.2, às 18:00

Organização | Centro de História da Universidade de Lisboa

Descarregar cartaz

Matheus Serva Pereira
Pós-doutorando no Departamento de História – Universidade Estadual de Campinas,
​S. Paulo, Brasil - UNICAMP
Investigador Visitante ICS-UL / Bolsista FAPESP

A atual comunicação pretende apresentar os primeiros passos da pesquisa de pós-doutoramento em andamento que, a partir da trajetória de vida de Fany Mpfumo, trabalhador migrante moçambicano nas minas sul-africanas, compositor e cantor do estilo musical marrabenta, pretende analisar os movimentos pela libertação nacional de Moçambique do jugo colonial português, seus diferentes projetos políticos e sua relação com as bricolagens produzidas pelas experiências cotidianas (sub)urbanas coloniais, sobretudo nos espaços de lazer dos subúrbios de Lourenço Marques/Maputo, nos últimos anos de vigência da dominação portuguesa. Estudar as vivências cotidianas de indivíduos como Fany Mpfumo, assim como o disseminar de suas canções, vem sendo entendido por mim como uma janela para os conflitos e transformações ocasionadas, por um lado, pelas políticas e pela repressão colonial e, por outro lado, pelos movimentos independentistas. Posteriormente a 1975, com a vitória armada e ideológica da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e a adoção oficial de um projeto marxista-socialista para a nação independente, continuar seguindo os percalços de Fany Mpfumo vem sendo encarado como uma possibilidade de analisar as experiências das camadas populares (sub)urbanas que haviam sido intensamente disputadas para aderirem a causa independentista e que terminaram por serem reprimidas ou renegadas ao ostracismo pelo novo Estado moçambicano, especialmente por não se enquadrarem plenamente ao ideal nacional de construção do "homem novo". Estudar as canções e a trajetória de vida de homens como Fany Mpfumo, assim como as relações socioculturais existentes ao redor da marrabenta, durante as décadas de 1950 e 1980, é uma forma de se chegar mais próximo das vicissitudes cotidianas enfrentadas pelos “de baixo” nesse período de intensas mudanças.

Matheus Serva Pereira é graduado e mestre em História Social pela UFF. Doutor em História Social da África, pela UNICAMP, com financiamento da FAPESP. Na pesquisa de doutoramento os chamados batuques no sul de Moçambique, entre as décadas de 1890 e 1940, foram tomados como objeto e, ao mesmo tempo, como uma janela privilegiada para analisar o mundo das experiências cotidianas dos classificados pelo linguajar colonial português como indígenas. A pesquisa pretendeu investigar as experiências e as reinvenções criativas desses indivíduos no jogo cotidiano com o colonialismo português. Atualmente, sou pós-doutorando no departamento de História da Unicamp e Investigador Visitante no ICS-UL, com financiamento da FAPESP. A pesquisa tem como objetivo investigar o cotidiano dos subúrbios da capital moçambicana, a ascensão de novos ritmos musicais e suas relações com as disputas ao redor dos projetos nacionalistas desenvolvidos no contexto das décadas de 1950-1980. Faço parte da equipe de investigadores do projeto temático desenvolvido no CECULT-UNICAMP, "Entre a escravidão e o fardo da liberdade: os trabalhadores e as formas de exploração do trabalho em perspectiva histórica" e do conselho editorial da revista “Práticas da História: Journal of theory, historiography and uses of the past”.