Fronteira do Gharb al-Andalus: Terreno de Confronto entre Almorávidas e Cristãos (1093-1147)
Autora: Inês Lourinho
Edição: Centro de História da Universidade de Lisboa
Ano: 2020
ISBN: 978-989-8068-27-9
Disponível em acesso aberto no repositório da Universidade de Lisboa
SINOPSE
Em 1147, terminava meia centena de anos de domínio almorávida no al-Andalus, que, no caso do atual território português, significou uma presença entre as linhas do Tejo e as praias do Algarve. De um lado, o Condado Portucalense, que se começava a transformar em reino de Portugal. Do outro, o império formado a partir de uma base de tribos sarianas nos anos de 1030, que conquistara o Magrebe e, a partir de 1090, a Hispânia muçulmana. Cidades-chave como Santarém e Lisboa oscilaram entre as esferas de influência almorávida e portucalense entre 1093 e 1147. Observar as basculações da fronteira e as transferências de poder neste breve lapso cronológico permite compreender as circunstâncias que conduziram à fundação de um reino ultraperiférico. Esta é, pois, uma investigação filiada na história política, mas que não pretende ser uma “biografia” do Império Almorávida, nem tão-pouco uma investigação sobre o Condado Portucalense e a fundação do reino de Portugal "tout court". Esta é uma investigação sobre a fronteira do Gharb al-Andalus, elemento, a um tempo, de separação e união entre blocos adversários, de transferências culturais e políticas, de fluidez e porosidade, e sobre as suas geografias entre 1093 e 1147 – ou, se quisermos, a análise de uma sucessão de contextos cristãos e muçulmanos que permitiram a fundação do reino de Portugal.
AUTOR
Inês Lourinho doutorou-se em História Medieval, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 2018, com a investigação nesta obra apresentada. Para trás, ficou uma década em que se dedicou ao estudo do al-Andalus e do Magrebe, das relações entre cristãos e muçulmanos, dos contextos políticos e das dinâmicas da guerra de fronteira, que culminaram na fundação do reino de Portugal. A dissertação de mestrado (1147: Uma Conjuntura Vista a Partir das Fontes Muçulmanas), também produzida na Faculdade de Letras, constituiu o embrião da investigação agora publicada. Em todos os trabalhos, confronta as fontes cristãs com as muçulmanas, na busca de um ponto de observação mais equilibrado entre as partes antagonistas, uma metodologia fortemente influenciada pela formação inicial em Ciências da Comunicação, licenciatura que completou na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
ÍNDICE
AGRADECIMENTOS
GUERRA PELA FRONTEIRA
1093-1106. HOMENS DO DESERTO TORNAM-SE SENHORES DO AL-ANDALUS
1. O FIM DAS TAIFAS
Queda de Badajoz
Pressão de Afonso VI sobre os reis do al-Andalus
Rivalidades no controlo dos tributos
Fronteira dinâmica
Equilíbrio instável no bloco cristão
Conquista de Coimbra e reorganização do território
Circulação da moeda e adoção de morabitinos
2. QUEM ERAM OS ALMORÁVIDAS?
Ascensão e legitimação de Yusuf b. Tashfin
Abd Allah b. Yasin e a guerra santa
Submissão das tribos sanajas e constituição de um grupo de apoio
O triângulo Sijilmassa-Awdaghust-Aghmat e a morte de Ibn Yasin
O ouro dos negros
Comércio: traço de união entre as cidades de um império em construção
3. CONQUISTA DO MAGREBE
Mequinez, Fez e Marraquexe: o legado de Abu Bakr b. Umar
A caminho do Mediterrâneo
Ceuta e a luta pelo controlo do estreito de Gibraltar
Zallaqa ou o reencontro do al-Andalus com o Magrebe
Obediência ao califado abássida
4. FRONTEIRA DO GHARB NO FINAL DO SÉCULO XI
Destituição dos reis andaluzes e tomada de Sevilha
Normandos tomam posição no Mediterrâneo
Conquistas almorávidas de Badajoz e Lisboa
Foral de Santarém e outras estratégias de construção da fronteira
Consequências da doença e morte de Yusuf na geografia da fronteira
1106-1130. DE TOMBUCTU A LISBOA, UM IMPÉRIO ESCULPIDO COM O OURO DO BILAD AL-SUDAN
1. RENOVAÇÃO NO BLOCO ALMORÁVIDA
Ascensão de Ali b. Yusuf e reorganização do poder
Batalha de Uclés
Guerra pelo trono cristão
Jihad no al-Andalus
Recuperação almorávida de Lisboa e Sintra: as informações nas sagas nórdicas
Nascimento de D. Afonso Henriques
2. CONJUNTURA DE TRANSIÇÃO
Batalha de Valtierra e conquista almorávida de Saragoça
Luta pela fronteira com Coimbra em ebulição
3. A FRONTEIRA DE COIMBRA
Estratégias de D. Henrique em marcha
Mais instabilidade na cidade
Maurício Burdino, conflitos entre Braga e Compostela e investidura em Roma
Disputas pela sucessão ao trono cristão
4. GUERRA DE FRONTEIRA E GUERRA NAVAL
Ataques almorávidas à região de Coimbra
Guerra na fronteira marítima
5. ASPIRAÇÕES POLÍTICAS DE D. TERESA
A “rainha” D. Teresa e a disputa pelo poder
Rescaldo do ataque almorávida
Apoio dos Travas e revolta dos nobres portucalenses
D. Afonso Henriques na arena política
Afonso de Aragão ameaça o al-Andalus
Contenção da fronteira e doação do Castelo de Soure aos templários
Batalha de São Mamede e afastamento de D. Teresa
Os novos rostos da fronteira
1130-1147. NOVO EQUILÍBRIO DE FORÇAS NO GHARB AL-ANDALUS
1. DESAFIO DO PODER NO MAGREBE
Contestação de Ibn Tumart e reforço dos sistemas defensivos almorávidas
Cerco almóada a Marraquexe, morte de Ibn Tumart e elevação de Abd al-Mumin a califa
2. OS ANOS DO APOGEU ALMORÁVIDA
Organização territorial do al-Andalus
Calma antes da tempestade
D. Afonso Henriques, génese de um rei
Construção da fronteira portucalense com os muçulmanos
3. DESMORONAMENTO DO IMPÉRIO
Caos no assalto ao poder de Marraquexe
Desmilitarização do al-Andalus: fossados cristãos e consolidação da fronteira
4. OS ANOS DO FIM
O ano de todas as calamidades
Queda do Império Almorávida e partilha dos despojos
REFLEXÕES
CRONOLOGIA
BIBLIOGRAFIA